quinta-feira, 28 de abril de 2011

Botticelli



A Primavera 
 A Primavera é uma obra de temática mitológica clássica que nos apresenta a alegoria da chegada dessa estação. Ao centro encontra-se Vênus, que media toda a cena. Na tradição clássica, Vênus e o Cupido surgem para avivar os campos, fustigados pelo inverno, iniciando a primavera ao semear flores, beleza e atração entre todos os seres. À direita da obra encontramos três figuras. O primeiro, um ser esverdeado, Zéfiro, personificação do vento oeste, abraça a bela ninfa Cloris. Botticelli a representa em sua metamorfose, quando se transformava em Flora, a figura com vestido florido que cumpre sua função de adornar o mundo com flores. Sobre a cabeça de Vênus está o Cupido, seu filho, de olhos vendados, apontando a seta do amor em direção às três figuras que representam as Graças (Aglaia, Talia e Eufrónsina), símbolos da sensualidade, da beleza e da castidade. Mais à esquerda encontra-se Hermes dissipando as nuvens, fechando esse ciclo mitológico. Para a filosofia platônica, esse ciclo é a ligação ininterrupta entre o mundo e Deus, e vice-versa.

Botticelli concebeu A Primavera sob orientação de Marsílio Ficino, principal representante da filosofia neoplatônica na época, que via Vênus como um ser de dupla natureza: terrestre, ligada ao amor humano, e celestial, ligada ao amor universal, da qual, supõe-se, Botticelli traçou analogia com a Virgem Maria. Tal suposição está embasada nas vestimentas de extremo recato de Vênus, na posição de sua mão direita, que se encontra em um gesto de benção, e, também, por ela estar circundada com um arco rendilhado de folhas com fundo claro, que sugerem a forma de auréola e prenunciam as grinaldas florais que, a partir do século seguinte, estiveram associadas à figura da Virgem.

O Renascimento introduziu a concepção científica do mundo, além de reafirmar com contundência o naturalismo gestado no Gótico. Botticelli utiliza aqui um naturalismo metódico, de caráter científico; a natureza é estudada e não copiada. Afinal, Botticelli teve apoio de membros da Academia Platônica, fundada por Lourenço de Médici, o Magnífico, juntamente com Landini, o tradutor de A Botânica de Plínio, o Velho, para orientar o artista no reconhecimento dos detalhes das diversas plantas e flores, além de suas simbologias.

Em A Mansão de Quelícera, esta obra foi base (ver Apropriação) para a criação do jardim de fundo do "jogo das borboletas" - ao qual o jogador tem acesso a partir do quarto de banho da Mansão, saída à direita do fundo do Hall - fundamental para o cumprimento da missão de um dos personagens do jogo.



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